O dia de hoje representa um marco na história de sete municípios do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. O Geoparque Caminhos dos Cânions do Sul acaba de ser reconhecido pela UNESCO como um território de relevância geológica internacional e passa a integrar oficialmente a Rede Global de Geoparques (Global Geoparks Network – GGN) como o segundo geoparque brasileiro. A chancela insere a região no mapa dos destinos que são exemplo de gestão com foco no desenvolvimento sustentável e abre portas para novas oportunidades de cooperação com outros 176 Geoparques em 46 países.
A decisão foi anunciada pela UNESCO após a 214ª sessão do Conselho Executivo realizada hoje, que endossou a aprovação de oito novos geoparques. A novidade foi recebida com entusiasmo pela equipe envolvida e a população do território tem bons motivos para comemorar. Os Geoparques são considerados territórios do futuro, onde as riquezas naturais e culturais se revelam como os principais recursos para a geração de novas oportunidades de renda e melhoria das condições de vida das comunidades.
O Geoparque Cânions do Sul é formado pelos municípios de Cambará do Sul, Mampituba e Torres, no Rio Grande do Sul; Praia Grande, Jacinto Machado, Timbé do Sul e Morro Grande, em Santa Catarina. O território abrange uma área total de 2.830 km2 e cerca de 74 mil habitantes.
Para o presidente do Consórcio Intermunicipal Caminhos dos Cânions do Sul, Carlos Souza, prefeito de Torres, a chancela reconhece a trajetória construída ao longo de 15 anos e traz um novo olhar sobre o potencial turístico da região, destacando sua importância para o mundo. “Esta conquista é resultado da mobilização de diferentes lideranças, pesquisadores, educadores, estudantes, instituições parceiras, empreendedores, equipe técnica e todos que sempre acreditaram no Geoparque. É só o início de uma nova etapa de trabalho intenso pela frente, mas que já está trazendo importantes resultados para o desenvolvimento econômico da nossa região”, destaca Souza.
No dia 21 de abril, a UNESCO apresenta os novos Geoparques em um evento digital de boas-vindas que pode ser acompanhado ao vivo pela internet, a partir das 9 horas, no canal do YouTube: Global Geoparks Network. Com isso, o Brasil passa a ter três Geoparques, sendo o primeiro deles o Geoparque Araripe, no Ceará, reconhecido em 2006, e agora os Caminhos dos Cânions do Sul e o Geoparque Seridó (Rio Grande do Norte), que recebem o título ao mesmo tempo.
Dos 18 projetos avaliados pela UNESCO em 2021, oito foram aprovados, sendo os geoparques brasileiros os únicos na América Latina. Os outros seis ficam na Europa: Rise (Alemanha), Platåbergen (Suécia), Mëllerdall (Luxemburgo), Buzău Land (Romênia), Salpausselkä (Finlândia) e Kefalonia-Ithaca (Grécia).
SAIBA MAIS:
O QUE É UM GEOPARQUE?
De acordo com a UNESCO: Os Geoparques Mundiais da UNESCO são áreas geográficas unificadas, onde sítios e paisagens de relevância geológica internacional são administrados com base em um conceito holístico de proteção, educação e desenvolvimento sustentável.
Um Geoparque Mundial da UNESCO deve demonstrar o patrimônio geológico de relevância internacional. Além disso, seu propósito consiste em explorar, desenvolver e celebrar as relações entre esse patrimônio geológico e todos os outros aspectos patrimoniais naturais, culturais e imateriais da área. Trata-se de religar, em todos os sentidos, a sociedade humana à Terra e de celebrar as formas como o planeta e sua longa história de 4,6 bilhões de anos têm moldado cada aspecto de nossas vidas e de nossas sociedades.
O título de “Geoparque Mundial da UNESCO” não é uma designação legislativa – porém, a definição de sítios do patrimônio geológico dentro de um Geoparque Mundial da UNESCO deve ser protegida pelas legislações locais, regionais ou nacionais. O status de Geoparque Mundial da UNESCO não implica restrições a nenhuma atividade econômica dentro de um Geoparque Mundial da UNESCO, desde que essa atividade atenda às leis locais, regionais e/ou nacionais.
A chancela não é um título permanente. A cada quatro anos, os Geoparques passam por um novo processo de revalidação para garantir que seguem cumprindo os requisitos do Programa de Geoparques da UNESCO.
RELEVÂNCIA GEOLÓGICA
A riqueza do patrimônio geológico, da biodiversidade e da cultura regional motivou a busca pelo título. A região apresenta a maior concentração de cânions do Brasil, com grandes escarpas que atingem até 1157 metros de altura e extensão total de aproximadamente 250 km.
Conforme explica o geólogo do Serviço Geológico do Brasil (SGB-CPRM) Michel Godoy, a evolução geológica dos Cânions do Sul começou com a fragmentação do supercontinente Gondwana que, após sua separação, originou três continentes: a América do Sul, a África e a Antártida. “Há cerca de 130 milhões de anos, as movimentações das placas tectônicas causaram a separação dessa grande massa continental e despertaram um dos maiores eventos geológicos de todos os tempos, o vulcanismo Serra Geral. A grande região recoberta por esse vulcanismo ficou conhecida como Província Basáltica Continental Paraná-Etendeka que possui registros contínuos de rochas vulcânicas preservadas no Brasil, Paraguai, Argentina, Uruguai na América do Sul e Namíbia na África”, destaca o geólogo.
Este importante capítulo da história da Terra está registrado nos diferentes geossítios do Geoparque, alguns deles de relevância geológica internacional, com grande potencial para promoção do geoturismo e de estudos científicos nestes locais.
HISTÓRICO
– A concepção de um projeto de Geoparque entre os estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul começou a ser idealizada em 2007, por iniciativa do prefeito de Praia Grande (SC), na época, Sr. João José de Matos. A proposta envolvia seis municípios da região, sendo três de Santa Catarina e três do Rio Grande do Sul.
– Já em 2009, o projeto Geoparque passou a ser liderado pela parceria entre a Secretaria de Desenvolvimento Regional (SDR), de Araranguá (SC) e Associação dos Municípios do Extremo Sul Catarinense (AMESC). Nessa época, o território do Projeto foi ampliado para 19 municípios.
– Entre 2010 e 2011, aconteceram os primeiros estudos para iniciar o inventário dos geossítios pelo Serviço Geológico do Brasil (SBG-CPRM), através da Superintendência de Porto Alegre (RS).
– Em 2014, com o amadurecimento do projeto, a área do Geoparque foi reduzida para os atuais sete municípios, como forma de direcionar os esforços para uma área núcleo.
– Em abril de 2017, o processo avançou para a criação oficial do Consórcio Público Intermunicipal Caminhos dos Cânions do Sul, órgão responsável pela gestão do projeto, formado pelos sete municípios que compõem o território.
– Em 2019, o Consórcio enviou à Unesco o dossiê oficializando o processo de candidatura. O projeto passou a ser considerado um Geoparque Aspirante, cumprindo uma série de procedimentos como o envio de relatórios e documentações específicas que demonstram a relevância geológica da região, além de diversas evidências sobre a trajetória da proposta, a gestão e o envolvimento da população.
– Em novembro de 2021, o Geoparque recebeu dois representantes da UNESCO que percorreram todos os municípios do território, avaliando se o projeto cumpria cumpre os requisitos para o título, entre eles: visibilidade, atuação em rede com outros geoparques, estrutura de gestão, atividades educacionais, culturais e de pesquisa científica, além da relevância geológica. A avaliação foi positiva e recomendou o reconhecimento como um Geoparque Mundial, indicação que foi aprovada por unanimidade na reunião do Conselho de Geoparques da UNESCO em dezembro do ano passado e endossada agora pelo Conselho Executivo.
GESTÃO
O Consórcio Intermunicipal Caminhos dos Cânions do Sul é responsável pela gestão do Geoparque e a equipe técnica é formada por representantes de todos os municípios. O Consórcio atua na construção de estratégias sólidas para promover a conservação da natureza, a educação e o turismo sustentável, trabalhando em parceria com instituições públicas e privadas.
GEOCONSERVAÇÃO
Importantes elementos do patrimônio geológico da região já estão protegidos em Unidades de Conservação, como os cânions localizados nos Parques Nacionais Aparados da Serra e Serra Geral; os campos de dunas do Parque Estadual de Itapeva; e a Ilha dos Lobos, no Refúgio da Vida Silvestre.
EDUCAÇÃO
Um dos grandes destaques do Geoparque Caminhos dos é a mobilização da comunidade escolar, com amplo envolvimento dos educadores e atividades realizadas em todas as escolas da rede municipal de ensino do território.
CULTURA
O território revela também rico patrimônio cultural material e imaterial que permite conhecer o passado, as tradições, a história, os costumes, a cultura e a identidade dos povos que habitaram e ainda habitam a região. Destaca-se, particularmente, a influência das comunidades indígena e quilombola, dos imigrantes açorianos, alemães e italianos, passando ainda pelo marcante movimento do tropeirismo na região.
GEOTURISMO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
O Geoparque convida os visitantes dos geossítios a interpretarem a paisagem muito além da beleza cênica que se observa. Ao entrar no território dos Caminhos dos Cânions do Sul, o turista está diante de um grande museu a céu aberto que revela importantes registros do processo de transformação constante do Planeta e da evolução da humanidade, por isso, pode ser considerado um verdadeiro “Parque da Terra”.